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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Explicando: Golpe da "Revisão Previdenciária"


Apesar de direito previdenciário não ser minha área de atuação, decidi falar sobre esse assunto por causa de um evento que presenciei hoje. Ao falar com meus pais esta tarde, vi minha mãe sentada no sofá. Ela lia em voz alta uma correspondência que chegou horas antes que tinha por título "revisões previdenciárias". Tratava-se de um folder contendo mencionando uma suposta decisão do Supremo Tribunal Federal "condenando" o INSS a rever benefícios de aposentados entre 1977 e 1988 (decisão esta que não procede. Em 2017 foi noticiada revisão de teto para aposentados entre 1988 e 1991, o que não bate com a suposta manchete). Interessei-me rapidamente pelo conteúdo e o peguei para ler logo em seguida. No decorrer da leitura, eram ressaltadas diversas promessas como a de "aumento considerável em seu benefício", "análise grátis presencial, por email ou até mesmo Whatsapp" e a "não cobrança de custas. 

Por fim, em letras garrafais e em cor vermelha estavam expressos os documentos necessários: RG, CPF, comprovante de endereço, carta de concessão com memória de cálculo. Até aí tudo ok. Até chegar na parte final que dizia: "caso não conte o direito devolvemos os seus documentos sem custo". Oi? Então quer dizer que o futuro "cliente" deverá ir ao encontro do "escritório", entregar seus documentos ORIGINAIS e apenas tê-los de volta caso o direito não se configure? Ainda por cima, um dos telefones disponíveis possui o DDD de um estado totalmente diferente dos quais o serviço é oferecido. Me poupe, se poupe, nos poupe.

Felizmente, o conteúdo oferecido não foi uma tentação para nenhum dos meus familiares. Mas muitas pessoas que se encaixam no perfil citado e abrem os olhos, imaginando como poderão ganhar mais dinheiro. E da falta de informação e ingenuidade surgem os mais diversos tipos de pessoas mal intencionadas para aplicarem os tipos mais diversos de golpes.

Há algum tempo, escrevi acerca do "golpe do motoboy"; golpe este amplamente noticiado pela mídia e visto na prática. Pensei, então, em escrever sobre este assunto (agora voltado a revisões previdenciárias) e oferecer dicas para que as pessoas pensem duas vezes antes de aceitarem qualquer oferta fácil.

1. Notem erros de grafia

Geralmente os documentos publicitários em geral possuem todo um cuidado com erros de grafia e gramática antes de serem impressos e distribuídos. Não falo apenas na presença de erros de concordância, mas em erros crassos mesmo. A título de exemplo, nesse folder que li, o indivíduo escreveu "rebebimento" ao invés de recebimento. Também havia confusão evidente no uso da crase com acento agudo (não saber quando colocar ou não o sinal da crase, tudo bem. Mas confundir com acento agudo? Sério?). Vários pequenos erros e até mesmo informalidades dentro do texto que poderiam até mesmo serem provenientes da pressa ao escrever. Mas erros contínuos podem levantar suspeitas para o suposto autor daquela mensagem.

2. Confusão na identificação do remetente

O estelionatário tem como objetivo ganhar a confiança do cliente para, então, aplicar-lhe o golpe. Por este motivo, utiliza símbolos comuns na área que diz atuar, sem precisar identificar atributos essenciais como nome, por exemplo. Foi exatamente o que aconteceu neste caso. O folder tinha o nome "revisões previdenciárias" e o símbolo de uma balança ao lado. Qualquer pessoa ao vê-lo faria uma associação quase que automática com um escritório de advocacia. Porém, não há sequer identificação do "profissional" que escreveu o texto, seja com seu nome ou de outros possíveis sócios ou número da OAB. Além disso, a diferença no DDD dos números oferecidos serve como alerta da natureza do anúncio.

3. Advogados e uso de mala direta

Esse tópico serve para informar aqueles que não sabem sobre um assunto importante: uso de publicidade por advogados e escritórios. o Código de Ética da categoria veda vários tipos de marketing que são tão comuns em outros ramos. Um deles é justamente o uso da mala direta. Mas às vezes o estelionatário sequer sabe disso e se utiliza dessa ferramenta para aplicar seus golpes. Ou talvez até seja um escritório de verdade que não se identifica para não ser denunciado à OAB, vai saber. Então, se você algum dia na sua vida receber algum folder de oferecimento de serviços ou mala direta (aquelas cartinhas de propaganda), desconfie.

4. Advogados e posse de documentos

Literalmente perdi a cabeça quando li na mensagem sobre os documentos. Isso porque, da forma que o texto foi redigido, deu a entender que a pessoa ficaria com o original, apenas devolvendo caso "não conste o direito". Serve também como dica para alguém que nunca entrou em contato com um advogado ou até mesmo em órgãos públicos. 

Quando um profissional pede seu documento, não significa que ele deva ficar com ele. No caso do advogado ao ter acesso às informações do cliente, são tiradas cópias do RG, CPF e outros para estas serem anexadas ao processo. Após feita esta cópia, portanto, são devolvidas no mesmo dia ao cliente. Abra os olhos se alguém pedir sua documentação por mais tempo que o necessário. Se enrolar ou der respostas evasivas, fuja.

CONCLUSÃO

Essas foram algumas dicas que podem ajudar a identificar golpes por escrito. Claro que o caso usado foi relacionado ao das revisões previdenciárias, mas também serve para qualquer outro assunto. Uma dica adicional que é sempre bom ressaltar trata-se da pesquisa. Será que a notícia que está sendo veiculada é verdadeira? Use o Google, pergunte para um profissional de sua confiança. Assim fica mais fácil evitar dores de cabeça desnecessárias.

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